Música tema: Gonna Find Out - Kate Hudson
Eu amo histórias. Amo conhecer a história das pessoas, saber de outras realidades. Viver a vida delas, nem que seja apenas pelos 45 minutos do podcast que eu estou ouvindo. Inclusive, eu ouvi um na semana passada de uma ex-agente do serviço secreto norte-americano e fiquei pensando no meu sonho adolescente de ser espiã. Meu coração bateu até mais rápido, pensei “será que ainda dá tempo?”.
Mesmo se desse, eu fico nervosa só de ver um policial armado e eu simplesmente não sei mentir. Uma vez eu falei para o meu professor que ele tinha somado a nota errada da minha prova e tinha me dado dois pontos a mais. Ele me falou “você é a pessoa mais honesta que eu já conheci”. Fiquei um pouco chateada com aquilo, não parecia ter sido um elogio. Eu queria saber mentir, mas não sei. Ou seja, eu jamais conseguiria ser uma espiã, mas nos sonhos tudo vale, certo?
Será que ainda dá tempo? Eu faço essa pergunta todos os dias.
Será que ainda dá tempo de estudar direito em Harvard como a Elle Woods? Será que ainda dá tempo de virar cirurgiã como a Meredith Grey? Será que ainda dá tempo de me tornar uma atleta olímpica? No meu caso, a resposta para todas essas perguntas é não. Não dá tempo de fazer nada disso. E eu também nem quero.
Apesar desses exemplos irreais e ilustrativos, esse foi o ano que eu mais me fiz essa pergunta: será que ainda dá tempo? De correr uma maratona, de fazer um doutorado, de mudar de país, de começar uma nova carreira, de me apaixonar, de escrever um livro. De recuperar amizades, hábitos, sonhos que ficaram esquecidos no passado. Será que ainda dá tempo?
Faltam menos de 3 meses para os meus 20 anos chegarem ao fim e eu estou lidando com o fato de que eu não vou conseguir fazer nem metade das coisas que eu achei que faria antes dos 30. Em minha defesa, eu fiz uma imensidão de coisas nos meus 20 anos. Achar que eu seria capaz de fazer ainda mais do que isso seria loucura, porém, eu nunca disse que não era louca.
Eu fui de “eu tenho todo o tempo do mundo” para “se eu não fizer isso amanhã, eu nunca mais vou poder fazer”. É como a questão de ter filhos. Você passa a sua vida inteira ouvindo que a pior coisa que pode te acontecer é engravidar. “Uma gravidez na adolescência vai acabar com a sua vida”. E de repente, DO NADA, o discurso muda completamente. “Se você não tiver filhos agora, você não vai mais conseguir ter”. Quando foi que eu passei de um extremo ao outro? Quando foi que o meu tempo ficou tão escasso?
Por que eu tenho a impressão de que eu não vou conseguir fazer mais nada depois dos 30? Eu escrevi isso aqui na primeira edição desta newsletter e vou repetir de novo. Eu culpo as comédias românticas.
Nessas minhas semanas sabáticas da newsletter, eu tentei assistir “O diário de Bridget Jones”. Eu nunca assisti esse filme inteiro e estava me sentindo uma fraude por isso. Afinal, como posso me considerar uma amante das comédias românticas se nunca assisti uma das mais clássicas? Bom, eu vou ter que lidar com o fato de que isso provavelmente nunca vai acontecer.
Nos primeiros 15 minutos do filme, que foi o que eu consegui assistir (15 minutos e 40 segundos para ser precisa), ela é assediada pelo chefe, ofendida pelo cara que muito provavelmente vai virar o amor da vida dela, e diz que a primeira coisa que ela precisa fazer para mudar de vida é perder 9 quilos (sendo que ela pesa 62). Se eu não me engano, ela tinha 32 anos quando o filme começou. Uma mulher solteira que bebe demais, fuma demais, não está no seu trabalho dos sonhos e ainda está acima do peso (escrevo isso enquanto reviro os meus olhos, porque obviamente não concordo). Logo no começo do filme também tem aquela cena clássica da Bridget cantando “All by my self”, criando assim, a imagem da mulher fracassada com mais de 30 anos.
Se eu tivesse assistido o filme até o final, talvez eu tivesse percebido que ele não é sobre isso, que a história é sobre uma mulher que consegue se reinventar aos 30 anos, mas eu não assisti, então essa é a imagem que ficou comigo: ou você vira uma mulher “bem sucedida” antes dos 30 ou acabou para você.
Só que nesse meu período sabático, as duas rainhas da comédia romântica me salvaram desse pensamento dramaticamente extremista: Kate Hudson e Anne Hathaway, que coincidentemente também atuaram juntas em uma comédia romântica que eu amo, Noivas em Guerra.
A Kate Hudson tem 45 anos, 3 filhos e estrelou (na minha humilde opinião) alguns dos melhores filmes já feitos (Como perder um homem em 10 dias, Um presente para Helen e O noivo da minha melhor amiga). Ela é uma atriz extremamente bem sucedida, reconhecida internacionalmente e provavelmente milionária. Ela poderia apenas fazer os mesmos tipos de filme que ela já fez e continuar ficando mais rica, mas esse ano ela resolveu que iria lançar a sua carreira como cantora.
Ela deu uma entrevista no Call her daddy e contou que sempre amou cantar, mas que quando começou a atuar, disseram que ela teria que escolher e a música acabou ficando para trás. Apesar disso, ela tinha escrito diversas músicas que ficaram guardadas por anos, até que finalmente resolveu compartilhá-las com o mundo.
Vou admitir uma coisa para você. Quando eu ouvi ela falando que tinha lançado um álbum a primeira coisa que eu pensei foi “Que doida, por que ela está fazendo isso?”. Sim, eu julguei. Depois que eu absorvi um pouco a informação, eu percebi o quão incrível era o que ela estava fazendo e fui ouvir o álbum. Para a minha surpresa, eu achei muito bom e a música “Gonna Find Out” se encontra no meu repeat atualmente. O quão maravilhoso é você chegar aos 45 anos sendo extremamente bem-sucedida e resolver começar uma carreira nova?
Agora saindo da realidade e entrando na ficção: Anne Hathaway, que junto com a Taylor Swift, é a dona e proprietária do meu coração.
Se até agora você ainda não assistiu o filme “Uma ideia de você” eu preciso te dizer que tem um problema muito grande com você (vai assistir agora!!!). Pode ficar tranquila que não vou dar nenhum spoiler, só estou te julgando mesmo.
Esse filme me fez lembrar porque eu amo comédias românticas. Fazia muito tempo que um filme não mexia comigo assim. Foi como se durante aquelas duas horas eu tivesse me apaixonado junto com eles. E mais do que me apaixonar pela história do casal, eu me apaixonei pela Solene, personagem interpretada pela Anne Hathaway. Uma mulher recém divorciada de 40 anos, mãe de uma adolescente, que se apaixona por um cantor super famoso de 25 anos. A Solene me fascinou, não apenas porque a Anne Hathaway nunca esteve tão linda, mas também porque a personagem é real. Tirando a questão do cara ser super famoso, eu consigo ver aquilo acontecendo. Mais do que isso, eu ia amar que aquela história acontecesse comigo.
Para mim, esse é o grande poder das comédias românticas, elas te fazem sonhar com a vida que você pode ter. Só que por muito tempo, elas só me mostraram histórias de mulheres nos seus 20 anos e ficou difícil sonhar com o que poderia acontecer depois disso.
Do mesmo jeito que com 8 anos a Mia Thermopolis me fez acreditar que eu poderia ser uma princesa, hoje, a Solene me fez acreditar que eu posso reinventar a minha vida com 40.
Então sim, ainda dá tempo.
xoxo,
A última adolescente
Um pequeno desabafo antes de ir embora
Quando eu comecei essa newsletter, eu tinha acabado de voltar da Eras Tour e estava prestes a entrar de férias, ou seja, estava otimista demais sobre o meu tempo. Nessas últimas semanas eu percebi que não é realista da minha parte acreditar que eu vou conseguir dar conta de escrever esses textos semanalmente, por isso, a partir de agora essa newsletter é oficialmente quinzenal. Eu sei que ela meio que já tinha virado, mas tornar isso oficial faz com que eu não me sinta mal quando eu não consigo escrever toda semana. Espero que vocês me entendam e continuem me amando (e me lendo, claro!).